segunda-feira, 4 de abril de 2011

Gene explica elevada taxa de gêmeos no RS

O mistério que envolvia o alto numero de gêmeos na cidade de Cândido Godói, no interior do Rio Grande do Sul, finalmente foi esclarecido: a população gemelar é resultado de uma variação genética. Não há nada de milagroso na água do poço nem houve experiências científicas com o povo.
Cerca de 10% da população de Linha São Pedro, distrito de Cândido Godói, é formada por pares de gêmeos. O índice da população em geral é de 1%.
Centenas deles foram à paróquia da cidade ontem pela manhã para conhecer os resultados de uma pesquisa que durou 17 anos. A tentativa de explicar o porquê de tantos gêmeos na cidade de pouco mais de 6 mil habitantes ganhou fôlego após boatos de que o médico nazista Josef Mengele havia feito experiências e manipulações genéticas nessa população nos anos 1960.
Segundo a professora Lavínia Faccini, do Instituto Nacional de Genética Médica Populacional, vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foram comparadas 42 mães de gêmeos com 101 mulheres que não tiveram gêmeos.
Os pesquisadores descobriram que as mães de gêmeos têm uma frequência muito maior da variação do gene P53 que está relacionada à sobrevivência dos embriões no útero. Esse gene se manifesta de duas formas: C e G.
Segundo Lavínia, a variação C (a mais rara) estava presente em 33% das mães de gêmeos e em 15% das mães do grupo controle. "Essa variação genética está concentrada nessa cidade e, por isso, as mulheres têm mais sucesso na gestação de gêmeos. Não é uma questão de formação do embrião, mas depois que eles são formados têm mais chances de sobrevivência", diz Lavínia. "Essa variação genética já era conhecida, mas não se sabia muito bem o papel dela na fertilidade."
Mas o que acontece com as mães de gêmeos que não têm a variação genética? Ainda não se sabe. Segundo Úrsula Matte, que participou da pesquisa, a descoberta indica uma predisposição. "Esse é um dos fatores de predisposição, mas não o único. Podem existir outros que influenciem a gestação gemelar."
Um dos pontos a serem investigados é se o homem exerce alguma influência nessa população. Por enquanto, o que se sabe é que essa variação genética se manifesta apenas em mulheres. Outro fator é a frequência dessa variação nas mulheres que engravidaram de gêmeos, mas perderam os bebês.
Água de poço. A influência da água no sucesso das gestações também está praticamente descartada. "Percebemos uma associação, mas não foi possível estabelecer uma relação de causa e efeito. As mães de gêmeos bebiam mais água de poço que as outras mães. Não tem pesticida na água, pelo contrário. É uma água muito pura e talvez possa haver um efeito protetor", diz Lavínia. 

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